(Autor: Carlúcio Bicudo – registro: 28476 –
livro 2 A)
Certa ocasião, um mascate, se
embrenhou no meio da caatinga, para levar seus produtos às famílias dos “filhos
da seca”.
Geraldo vendia de tudo. No seu
burrico, estrela, com a cangalha abarrotada de: perfumes, tecidos, espelhos,
facas, rapadura, até armas de fogo.
Queria percorrer toda a região
da Paraíba. Achou que era capaz de entrar e sair, pelo interior da caatinga,
sem se perder.
O cenário, encontrado por ele,
não era inédito. O sol escaldante tornava a paisagem seca, que os galhos
estorricados, quebravam ao menor toque.
Quanto mais, Geraldo, se
embrenhava em direção ao interior da Paraíba, mas a paisagem tornava tórrida e
triste. Era falta d’água por todos os lados. Rios secando, e as famílias, sem
ter o que comer. Acabavam comendo palmas cozidas para amenizar a dor da fome.
Percebi então, que eu tinha
feito uma opção de rota errada. Os sertanejos, neste momento, estavam mais
interessados em lutar por sua sobrevivência. Do que comprar os meus objetos.
Tencionei voltar ao litoral da
Paraíba, mas acabei sendo saqueado por três nordestinos, que desesperados, sem
ter o que oferecer as suas famílias, me roubaram tudo. Até o burrico estrela.
Agora, sem o burro para me
guiar entre a caatinga. Fiquei perdido no meio da floresta de espinhos. E
agora? No meu cantil, só tinha um pouco
de água, e no bornal, apenas um pedaço de queijo de coalho. Mal dava para um
dia.
Já sem expectativa para sair
desta enrascada. Parei embaixo de um Umbuzeiro,
que resistia bravamente a estiagem, e, ali permaneci. Planejei ficar por ali,
até que o sol escaldante pudesse amenizar; para só então, eu voltar a
caminhar em direção ao litoral.
Sentado debaixo do Umbuzeiro,
procurando por galhos ainda verdes que pudessem amenizar o calor do sol sobre o
meu corpo, fiquei a pensar. Será que vou sair deste braseiro com vida?
Já sem muita esperança, vi um calango se aproximar de mim com a
cabeça baixa, como se estivesse muito triste. Olhei para o pobre do animalzinho
e fui dirigindo-lhe a palavra:
─ Por que é que está tão triste?
─ Por causa da seca, perdi toda a
minha família. Pereceram com fome e sede. E eu como chefe da família, não pude
ajudá-los. Já me encontro sem forças.
Até aqui, resisti bravamente, comendo apenas raízes de caroá que tive que buscar profundamente.
─ Lastimo muito por sua família.
Mas, se quiser permanecer ao meu lado. Dividirei o pouco que ainda me resta.
─ Faria isto por mim? Dividir a sua
escassa comida comigo?
─ Por que não? Pelo menos, não fico
sozinho. Se tivermos de morrer, morremos juntos.
O
calango ficou com os olhos marejados. E o sorriso, apareceu em tua face.
Dei-lhe de beber e comer. O calango, todo
acabrunhado, pegou o queijo e comeu com tanto gosto que até lambeu os lábios.
Em seguida, bebeu água, que há dias não tomava um gole descente.
Os dois, depois de comerem,
adormeceram sobre a parca sombra que fazia o Umbuzeiro.
Ao acordar, Geraldo, percebeu que o calango trazia
pela boca, um saco de couro. E em seguida, dirigiu-lhe a palavra:
─ Amigo, por ter me dado de
comer e beber irei retribuir-lhe da forma que posso. Quero que aceite o
presente que vou te dar.
─ Ora, não precisa! Dividi com
você porque sou do bem, e tenho o coração puro. Jamais ficaria em paz comigo
mesmo, comendo e bebendo, e vendo outro ser do meu lado com fome e sede.
─ Aceite estes diamantes que
encontrei enterrado debaixo das raízes do caroá.
Não me pergunte como eles foram parar lá. Por que também não sei. Tenho uma
leve desconfiança que deve ser produto de saques dos homens do Cangaço. Eles
devem ter escondidos, da Patrulha Armadas Oficial (conhecida como “volante”) e por algum motivo,
esqueceram onde haviam enterrados, porque nunca voltaram para buscar.
─ Será? Mas de qualquer forma,
agradeço a generosidade. Fico grato, pelo presente.
Geraldo abre o saquinho e percebe
a grande quantidade de pedrinhas de diamantes. Fica extasiado. Com o intenso
brilho dos brilhantes.
─ Não posso aceitar todos
estes brilhantes. E você, ficará com o quê?
─ Caro amigo, para mim, estas
pedras de nada adianta. Elas só têm valor para vocês humano. O que eu preciso é encontrar outra
companheira, para formar uma nova família.
Geraldo, ouvindo o calango
dizer que o que mais queria era encontrar uma nova companheira. Pensou:
“Se conseguirmos sair deste inferno com vida, eu vou me empenhar em
encontrar uma companheira para o meu amigo calango”.
Os dois depois de
descansarem bem e o sol ter ido embora. Eles começaram a fazer uma nova
caminhada. Seguiram em linha reta e foram parar justamente em um córrego seco. Ali, Geraldo, colocou a cabeça para pensar:
“Geralmente todo rio, corre para o mar. O que devemos fazer é só seguir
o leito seco deste rio, que chegaremos a um lugar seguro”.
Assim, os dois começaram
a caminha a noite inteira pelo leito do rio árido e acabaram por chegar a uma
pequena cidade. Lá encontraram abrigo e comida o suficiente para resgatarem as
forças.
Geraldo, de posse dos
brilhantes, comprou um carro e voltou para a cidade de Conde. Mas, não antes de
comprar de um sitiante, um calango fêmea, para que pudesse ser a companheira do
seu grande amigo.
Os dois se despediram. E cada
um seguiu o seu destino.
Fim
Oi querido.
ResponderExcluirNinguém consegue viver só; às vezes, nos chateando, ora rindo, mas logo vem a noite e tudo se acalma com um beijo de amor.
Beijos no seu coração
Lua Singular